O Simexmin 2018 foi marcado pela despedida do Professor Onildo João Marini da direção executiva da ADIMB, à qual dedicou os últimos 26 anos de sua vida profissional.
Leia abaixo seu discurso de despedida proferido durante a cerimônia em sua homenagem.
“O dia de hoje e este momento se revestem para mim de grande importância e significado. Hoje, após 54 anos de atuação profissional, 26 dos quais dedicados à ADIMB, encerro minhas atividades frente à Diretoria Executiva desta associação. Assim sendo, peço-lhes alguns minutos para deixar registrado o papel que desempenhei nestes 26 anos e para referenciar aqueles que contribuíram para a viabilização da ADIMB.
Tudo Começou em 1991, quando estávamos no DNPM e participamos de uma visita a instituições e empresas da Austrália, juntamente com os colegas Juarez Fontana – DNPM; e colegas da VALE.
Visitamos na ocasião, entre outras instituições: AMIRA – em Melburne – Joe Cucuzza; Australia Mineral Fundation – em Adelaide; SCIRO Mineral Exploration – em Perth.
Estas instituições, com similares inexistentes no Brasil, Impressionaram-me sobremaneira o modo como, na Austrália, por meio delas, empresas concorrentes uniam-se para viabilizar projetos pré-competitivos de interesse comum, assim como a maneira como estes projetos integravam universidades, instituições de governo e empresas para executá-los com objetividade e em alto nível.
Voltei imbuído da intenção de criar no Brasil uma instituição similar a AMIRA e a Australia Mineral Foundation, dedicada, à um tempo, a realização de projetos técnicos-científicos e à formação continuada de pessoal no setor mineral.
Dediquei todo o ano de 1992 a vender a ideia da criação no Brasil de uma entidade similar; a explicar como atuavam e o que faziam. Dois colegas em posições estratégicas naquele momento no MME e no MCT aderiram logo à ideia.
Com eles, após muitas reuniões e debates, concluímos que seria difícil no Brasil criar uma tal instituição apenas com a iniciativa privada. E que, para tanto, havia necessidade de envolvimento do MME e MCT.
O ano de 1993 foi dedicado à elaboração de uma proposta básica preliminar e à apresentação e obtenção de apoio à mesma dos ministros do MME e do MCT.
Os ministros Alex Stepanenko – MME e José Israel Vargas – MCT aprovaram preliminarmente a ideia de criação da entidade proposta.
Em 1994, uma Portaria Interministerial MME/MCT constituiu um Grupo de Trabalho com o objetivo de:
“criar uma entidade ágil e específica, capaz de fazer a efetiva intermediação entre a indústria mineral, os órgãos do governo vinculados ao MME e MCT e as instituições executoras da pesquisa técnico-científica na área mineral”.
Ao Grupo de Trabalho cabia propor mecanismos e objetivos de cooperação MME/MCT e destes com o setor produtivo, com o propósito do desenvolvimento tecnológico do setor mineral pela ação sinergética governo/iniciativa privada. O GT foi constituído por:
Embora a maior parte dos membros do Grupo de Trabalho terem considerado ser possível, naquele momento, a criação de uma agência nova e independente, desvinculada administrativamente de outras instituições já existentes ou de órgãos públicos; tendo em vista o argumento de que a nova agência teria pontos em comum com o IBRAM, optou-se pela criação de uma Comissão Executiva Transitória.
Esta teve a finalidade de elaborar e executar um Projeto Demonstrativo.
O Projeto Demonstrativo, após analisado e verificado sua viabilidade no setor empresarial e no MME/MCT, permitiu:
Em Dezembro de 1994, o Diretor-Geral do DNPM, Elmer Prata Salamão, definiu os membros e competências da Comissão Executiva Transitória, que ficou constituída por:
Durante 12 meses os membros da Comissão Transitória participaram de vários eventos e visitaram empresas e organizações para divulgar a proposta da nova associação, nem sempre bem recebida.
Dentre os principais profissionais do setor que acreditaram na proposta e ajudaram a divulgá-la e implementá-la cabe referência:
Em julho de 1996, no Auditório Térreo do MME, foi criada oficialmente a ADIMB, representando o MME o Secretário de Minas e Metalurgia, Giovanni Tonniatti, e o MCT o Coordenador-Geral de Cooperação Bilateral do MCT, Lélio Fellows Filho.
A ADIMB foi criada com três membros natos (MME, MCT e IBRAM) e 29 empresas associadas. Estas, na maior parte empresas de exploração mineral ou braços de exploração de mineradoras, e empresas de serviços.
Seu primeiro Conselho Superior foi constituído por:
Como primeiro Secretário Executivo foi eleito Onildo João Marini.
Nos seus primeiros quatro anos de existência, a ADIMB teve importante apoio do DNPM e do MCT: o primeiro com salas, equipamentos básicos, material de consumo e outras facilidades; o segundo com bolsas do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico – PADCT para os membros da Secretaria Executiva.
De 1996 a 2018, nos seus 22 anos de existência formal da ADIMB, nos quais atuei como seu principal executivo, a Agência teve várias linhas de ação, adaptando-se às circunstâncias, à disponibilidade de recursos ou às tendências da Presidência, Diretoria ou Conselho Superior de plantão.
No período 1996-2005, valendo-se do conceito e credibilidade conquistados por seu Diretor Executivo em suas atuações anteriores na UnB, como Presidente Nacional da Sociedade Brasileira de Geologia, como Coordenador Geral do documento da SBG, Proposta da SBG ao Programa Nacional de Geociências – PRONAG, como Membro do Conselho Superior do CNPq, como coordenador do Diagnóstico da Sociedade Brasileira de Geologia ao Subprograma de Geociências e Tecnologia Mineral, como Coordenador da Área de Geociências do PADCT (que destinou mais de U$ 50 milhões às instituições da área); a ADIMB candidatou-se em editais e conquistou recursos significativos para realizar diagnósticos/prognósticos e implementar projetos de pesquisa pré-competitiva multi-institucionais de grande porte.
Deste primeiro período de existência da ADIMB cabe destaque:
Vinte e dois outros projetos e publicações resultaram de pesquisas estruturadas, com recursos conquistados e foram executados sob a coordenação geral da Secretaria Executiva da ADIMB, no mesmo período. Constam do site da ADIMB.
De 1996 ao momento, a ADIMB desenvolveu, um programa de cursos do mais alto nível; em prospecção mineral, depósitos minerais, avaliação econômica, legislação mineral e outros.
Nestes 22 anos foram promovidos 180 cursos de especialização, ministrados por especialistas internacionais e nacionais altamente conceituados em suas empresas associadas.
No mesmo período, promoveu 12 expedições a distritos mineiros e depósitos minerais no exterior: Austrália, USA, Canadá, África do Sul, Rússia, Chile, Peru e Brasil.
Entre 2002 e 2012, a Secretaria Executiva da ADIMB desenvolveu ações de Política Setorial que geraram importantes frutos para o setor.
Em 2002, assim que o colega Giles Carriconde de Azevedo assumiu a Secretaria de Mineração do MME, a Secretaria Executiva passou a municiá-lo, a pedido, com resenhas e artigos sobre ações internacionais no setor de exploração mineral, assim como sobre as necessidades nacionais no setor. Consegui-se influir no sentido do Secretário Giles viabilizar um enérgico programa de levantamentos básicos: geofísicos, geológicos e geoquímicos.
Graças a seu conceito e confiança junto a então Ministro de Minas e Energia, o Secretário Giles, conseguiu, em 2004 a destinação de U$ 300,000,000,00 ao setor. Destes U$ 175,000,000,00 foram aplicados no maior programa de levantamento aerogeofísico realizado em nosso País. Até 2012 a CPRM contou com recursos abundantes que possibilitaram a realização também outros importantes levantamentos geológicos e geoquímicos.
À César o que é de César. Meu reconhecimento ao colega Giles.
Em 2009, quando a Secretaria de Geologia, Transformação Mineral e Mineração tinha novo Secretário, o mesmo passou a divulgar uma proposta radical de Novo Marco Regulatório, altamente desestabilizadora da exploração mineral no Brasil.
A ADIMB, por meio de seu então Presidente Douglas Arantes e de seu Diretor Executivo foi na ocasião a primeira entidade a reagir à proposição. Divulgou em 14/12/2009 uma carta aberta com cinco páginas à comunidade do setor intitulada “Análise da ADIMB sobre a proposta de Novo Marco Regulatório”, na qual fizeram análise crítica da proposta e apresentaram as consequências nefastas que a mesma provocaria à pesquisa mineral no País.
Em 15/12/2009 o Secretário Executivo encaminhou para as autoridades setoriais documento mais robusto, com 12 paginas, com análise crítica detalhada de todos os pontos da proposta de Novo Marco Regulatório e suas consequências. O documento foi encaminhado a:
Com os referidos documentos os signatários entenderam estarem agindo como representantes de técnicos e pesquisadores da área de pesquisa mineral e como cidadãos naquilo que tinham o dever e o direito de defender no interesse do setor mineral brasileiro.
Os documentos referidos causaram descontentamento na SGMT/MME, tendo o Secretário manifestado-o em reunião do Conselho Superior da ADIMB, onde representava o MME. Como consequência o Conselho Superior estabeleceu que a Secretaria Executiva não emitiria mais documentos por escrito relativos a posições do Governo, sem que os mesmos fossem antes aprovados pelo Conselho.
Posteriormente, a partir de 2014 e com mais ênfase a partir de 2016, as presidências passaram a considerar que a ADIMB não deveria manifestar-se, nem mesmo, verbalmente.
A partir de 2012 a Diretoria Executiva passou a apoiar a criação de uma instituição com mais liberdade para posicionar-se em defesa dos interesses da exploração mineral/mineração frente às propostas do governo.
Em 2014 foi criada a Associação Brasileira de Empresas de Mineração – ABPM, que assumiu desde então o protagonismo em questões políticas e de outros interesses das empresas.
A partir de 2004, devido ao término do programa PADCT, a carência de recursos para projetos de pesquisa significativos, tanto no MME como no MCT, a ADIMB centrou suas atividades em curso, expedições e eventos.
Entre 2004 a 2018, a ADIMB realizou e/ou coordenou com eficiência:
De 2007 ao momento, a Diretoria Executiva vem divulgando clippings semanais em português, e quinzenais em inglês, com notícias do setor mineral brasileiro.
Hoje, após 26 anos dedicados a vender a ideia, a estruturar e a consolidar a ADIMB, sinto ter cumprido a missão que me impus em 1991.
Deixo a nossa Associação, consolidada, séria, respeitada e com credibilidade tanto no Brasil como no exterior.
Nestes 26 anos a ADIMB foi administrada franciscanamente, com o mínimo de servidores e com recursos limitados.
Não obstante, possui hoje uma reserva em caixa suficiente para, na pior das hipóteses, permitir a sua sobrevivência, por no mínimo, por três anos.
Finalmente, desejo agradecer aos colegas que comigo ombrearam na Diretoria Executiva nestes anos para viabilizar e promover projetos, cursos, eventos e outras ações realizadas pela ADIMB. Em especial agradeço aos colegas Waldir Benedito Ramos, Gustavo de Assunção Mello e Augusto Bittencourt Pires. Agradecimento muito especial desejo manifestar aos colegas dirigentes das empresas e instituições que acreditaram e patrocinaram nossas realizações.
Um agradecimento especialíssimo quero registrar à minha companheira há 55. À minha esposa Selci. Sem seu apoio incondicional e permanente todos estes anos, não teria condição de dedicar-se com afinco às minhas atividade profissionais. À ela devo tudo o que conseguir realizar.
Aos membros da Diretoria Executiva que permanecem na casa, e ao novo Diretor Executivo que me sucederá, desejo sucesso em seus empreendimentos.
Como pai amoroso, deixo esta filha formosa já de maior idade, nas mãos dos seus futuros presidentes, conselheiros, diretores eleitos, diretores executivos e coordenadores.”
Cuidem dela bem e com carinho!
OBRIGADO.
Onildo João Marini
Ouro Preto, 20 de maio de 2018